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Mãe aprende a ler com filho de 11 anos

Aos 42 anos, catadora de lixo aprende a ler com filho de 11 anos

Mãe aprende a ler com filho de 11 anos

Mãe aprende a ler com filho de 11 anos

“Mãe, mãe, quer ler comigo?” Foi assim que Damião Sandriano de Andrade Regio, 11, o mais novo dos sete filhos de Sandra Maria de Andrade, 42, começou a despertar o interesse na mãe em aprender a decifrar as letras do alfabeto.

Até um ano atrás, Sandra, que é catadora de lixo na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, não sabia ler nem escrever. Quando jovem, ela tentou estudar, mas como 758 milhões de adultos no mundo, apontados em um estudo da Organização das Nações Unidas, não pôde.

Sandra foi abandonada pela mãe aos três anos, entregue a um casal que a impediu de ir à escola. Ela foi forçada a trabalhar na lavoura, em casas de farinha (locais em que mandioca é ralada ou triturada) e fazendo faxina.

Aos 12 anos fugiu na tentativa de reencontrar a mãe. Quando finalmente se encontraram, foi rejeitada. Sem família por perto, Sandra passou a viver “na casa de um e de outro” vizinho. “Toda vez que ela (a mãe) trocava de marido eu procurava ela, que era pra ver se me amparava. Mas ela sempre me rejeitou”. A menina achava que “a mãe tinha que agarrar os filhos com unhas e dentes”. Passou então a “sentir um vazio”. Foi viver nas ruas e comer o que achava no lixo.”

A vida sem ler

Mãe aprende a ler com filho de 11 anosMas o mundo, quando tinha letras estampadas, “era como uma folha em branco” que dificultava até a hora de pegar um ônibus. Em busca de ajuda, ela precisava confidenciar a quem cruzasse o seu caminho: “Eu não sei ler”. E pedia: “Você pode ler pra mim?”.

Mas, sofrimento maior foi, anos depois, fazer a carteira de identidade e ter de estampar no documento a impressão digital em vez da assinatura.

Mãe aprende a ler com filho de 11 anos

Fruto de um segundo casamento e com aproximadamente três anos de idade, Damião, ouvindo a mãe mensurar o tamanho da vergonha, “muito grande”, fez um pacto com ela naquele dia: “Eu vou aprender e, quando aprender, vou ensinar à senhora”.

Ver Damião ir e voltar da escola era um dos momentos de alegria. Ela se orgulhava: “Ele vai ser o que eu queria ser”.

Estimulado por uma professora, Damião sempre pegava livros na biblioteca da escola e, “Foi com esses livrinhos que tudo foi se desenganchando” para Sandra.

“Eu tomava banho, deitava na rede, ele vinha e me chamava pra ler. Eu queria ver os desenhos, mas também queria aprender as letras. Ficava curiosa. Quando eu aprendi, disse: vou fazer outra identidade que é pra quando chegar nos cantos eu dizer: eu sei fazer meu nome. Pra mim, já era tudo eu saber. Chegar lá, o povo dizer assine aqui e eu dizer: agora eu já sei, não sinto mais vergonha”.

Escrever o próprio nome foi uma conquista. A palavra “mãe” também. Em uma reunião da escola, “morreu de felicidade” ao assinar a primeira vez como responsável da criança. “Tinha que escrever o que eu era dele. Eu escrevi mãe, caprichado, bem grande”.

Damião, devotado à mãe, quer ir além. “Eu quero ver ela aprendendo comigo. Quero que aprenda as palavras que ela sente aqui dentro. Ela gosta de falar amor, paixão. Já sabe um monte de palavras. Ela sabe as mais simples”.

Mãe e filho leram mais de uma centena de livros juntos. O preferido dela, faz questão de dizer, é ” Ninguém nasce genial”.

“Escrevi meu nome nele. Porque ninguém nasce gênio. Porque eu achava que não precisava mais saber, achava que era tarde pra saber”.

Para Damião, outro livro foi mais impactante. Tratava da história de um anjo que vivia acorrentado e só conseguiu se libertar quando ensinou um ser humano a rezar e os dois viraram amigos.

“É tipo eu e minha mãe. Eu estou ensinando uma coisa a ela e ela me ensina outra. Eu era novinho, ela me cuidava, eu cuidava dela. Ela dava um abraço em mim eu dava dois. Foi assim que nós começamos a nos amar”.

O menino também leu sobre aventuras, amizade, paixão e amor ao próximo. Nesses momentos, diz que “vai pra outro mundo”. Que fica com “uma imaginação infinita”“Eu quero que a leitura me leve pra qualquer canto”, diz.

Neste ano, Damião irá para o 6º série na escola. Na casa onde divide cada palavra que aprende com a mãe, a ajudou a escrever, na parede da frente, uma mensagem em letras verdes, maiúsculas: CANTINHO DA FELICIDADE ONDE HÁ DEUS NADA FALTARÁ”.

Fonte: BBC Brasil

Fotos: AGIL FOTOGRAFIA/BBC BRASIL

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