Agronegócio
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Integração lavoura-pecuária-floresta

Constatação é da Embrapa Agrossilvipastoril, que avaliou quatro Unidades de Referência Tecnológica e Econômica

O retorno do investimento feito pelos produtores que adotam sistemas integrados de produção como a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é maior do que daqueles que utilizam apenas a lavoura ou pecuária. O resultado foi identificado na Embrapa Agrossilvipastoril por meio da avaliação de quatro Unidades de Referência Tecnológica e Econômica (URTE) em Mato Grosso.

Na Fazenda Dona Isabina, em Santa Carmem (MT), por exemplo, para cada um real investido pelo proprietário no sistema de Integração lavoura-pecuária-floresta, no período de 2005 a 2012, o lucro foi de R$ 0,53. Já a fazenda modal da região, com agricultura exclusiva, nesse mesmo período teve um prejuízo de R$ 0,31 por real investido. O lucro anual de cada hectare na ILPF foi de R$ 230, muito superior ao prejuízo anual médio de R$ 116 da sucessão soja e milho.

Trabalhando com Integração lavoura-pecuária-floresta, a Fazenda Brasil, em Barra do Garças (MT), também obteve resultados superiores aos da fazenda modal da região, com retorno de R$ 0,89 por real investido contra R$ 0,35 registrados na propriedade de comparação.

O pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril, Júlio César dos Reis, explica que cada caso é particular, pois são muitos os fatores que influenciam nos custos e receitas. Como exemplo, ele cita a localização da propriedade, logística, tipo de sistema integrado, culturas adotadas, época de avaliação e câmbio, entre outros.

Júlio César diz que, no caso da Dona Isabina, um fator que contribuiu muito para os resultados tão superiores da Integração lavoura-pecuária-floresta foi o mau momento vivido pela agricultura nos anos 2005 e 2006. Fatores como a ferrugem-asiática aumentaram o custo de produção num período em que o preço da soja estava baixo e o milho safrinha ainda era pouco expressivo. Logo, a pecuária do sistema integrado ajudou a equilibrar as contas. Isso mostra como a diversificação das fontes de renda no sistema integrado contribui para a maior segurança do produtor.

A comprovação da importância da conjuntura para o resultado final está nos dados obtidos na Fazenda Certeza, em Querência, no leste do estado. A propriedade também trabalha com Integração lavoura-pecuária-floresta e teve os resultados econômicos de 2008 a 2012 analisados. Naquele período, o mercado da soja já havia se recuperado, sobretudo com o estabelecimento da China como grande compradora do grão. Com isso, a fazenda modal de agricultura obteve resultados melhores do que a ILPF. Mesmo assim, o sistema integrado ainda se mostrou viável.

De acordo com Júlio, os dados avaliados mostram que a Integração lavoura-pecuária-floresta tem todas as condições de ser lucrativa, mas também reforçam a necessidade de planejamento e organização para tomar as decisões mais corretas no momento certo.

“Olhando nossos resultados é bem evidente que vale a pena adotar a ILPF. Mas é preciso ter muito claro que é um sistema que só apresenta resultados se o produtor tiver um nível de planejamento e organização muito grande. Se por um lado o sistema mostra um nível de retorno, receita e comportamento mais estável no tempo, isso é em decorrência do desempenho do produtor. Saber negociar no momento correto e entender as dinâmicas dos preços são questões fundamentais”, analisa o pesquisador da Embrapa.

Integração lavoura-pecuária-floresta

Foto: Breno Lobato

Indicadores de rentabilidade – Integração lavoura-pecuária-floresta

Mesmo levando-se em consideração as características de cada fazenda avaliada, todas as propriedades com alguma configuração de Integração lavoura-pecuária-floresta tiveram resultados positivos. A maior parte delas, inclusive, supera com grande margem as áreas modais com as quais foram comparadas.

Para que seja possível comparar resultados de fazendas tão distintas, a equipe do projeto –composta por pesquisadores da Embrapa, professores e alunos da Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat), analistas do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) e da Rede de Fomento ILPF – padronizou uma metodologia de análise de custos. Com esse método, é possível chegar a indicadores que auxiliam o produtor a visualizar os benefícios econômicos da ILPF.

Três desses indicadores exemplificam bem os resultados. Um é o valor presente líquido anual (VPLA), que faz uma comparação do fluxo de custos e receitas ao longo do tempo, traz os valores para o momento inicial do sistema e mostra a rentabilidade por ano. Outro indicador é o índice de lucratividade, que apresenta o lucro ou prejuízo para cada R$ 1 investido. O terceiro indicador é o retorno sobre investimento anualizado (ROIA), que é uma transformação percentual do índice de lucratividade.

A análise econômica da Integração lavoura-pecuária-floresta ainda gera outros índices que estão sendo trabalhados para que possam auxiliar tanto os produtores na tomada de decisão quanto os agentes financiadores a simularem melhor os sistemas integrados no momento de liberar o crédito. “O produtor precisa estar sempre muito conectado com o que está acontecendo para tomar a decisão correta. Nossas avaliações têm o intuito de dar dicas para ele de como as coisas estão se comportando”, ressalta Júlio César dos Reis.

Casos – Integração lavoura-pecuária-floresta

Até o momento, quatro Unidades de Referência Tecnológica e Econômica já tiveram a avaliação econômica de todo o ciclo fechado. Nos casos das fazendas Dona Isabina e Certeza, o ciclo já se encerrou e os dados utilizados são todos reais. Já nas fazendas Gamada, em Nova Canaã do Norte, e Brasil, em Barra do Garças, como há florestas plantadas no sistema que ainda não foram cortadas e vendidas, os valores utilizados referem-se a simulações de mercado.

A Fazenda Dona Isabina foi aquela que apresentou a maior diferença favorável ao sistema de integração lavoura-pecuária. A ILPF foi o que manteve as contas positivas no período de 2005 a 2012.

Integração lavoura-pecuária-floresta

A propriedade Certeza, em Querência, foi a única em que os resultados da fazenda modal foram superiores aos da Integração lavoura-pecuária-floresta. O resultado foi influenciado pelos baixos preços obtidos com a venda do gado na região. Mesmo assim, a ILPF ainda se mostrou viável.

Integração lavoura-pecuária-floresta

Na Fazenda Brasil, em Barra do Garças, a pecuária e a madeira do eucalipto plantado em renques de linhas triplas elevaram o lucro do produtor e diversificaram as fontes de receita.

Integração lavoura-pecuária-floresta

Já no caso da Fazenda Gamada, em Nova Canaã do Norte, os números também são positivos, indicando boa rentabilidade da Integração lavoura-pecuária-floresta ao produtor. Porém, a analista da Rede de Fomento ILPF, Mariana Takahashi, assinala que não foi possível fazer um comparativo devido à inexistência de uma fazenda modal de pecuária em 2008, quando a avaliação começou a ser feita.

Segundo Mariana, a comparação só seria possível sabendo-se os custos e receitas de uma fazenda daquela época. A equipe do projeto tem buscado essas informações, mas, até o momento, não obteve êxito em conseguir dados precisos e completos.

Integração lavoura-pecuária-floresta

Pesquisa

A pesquisa de avaliação econômica de Integração lavoura-pecuária-floresta é coordenada pela Embrapa Agrossilvipastoril e conta com parceria com o Imea, Unemat, Rede de Fomento ILPF e de outras unidades da Embrapa.

Por meio de um projeto nacional, a metodologia de avaliação que vem sendo validada em Mato Grosso será aplicada em outros estados, padronizando os trabalhos na área de economia em ILPF.

Fonte: EMBRAPA

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