Sertanejo Raiz
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Sertanejo Raiz – A história do “Berrante”, um símbolo da lida boiadeira…

Amigos do Sertanejo Oficial e amantes da música sertaneja hoje vamos conhecer um pouco do que é o berrante, berranteiro, toques e algumas curiosidades deste instrumento que é símbolo da lida boiadeira.

O berrante é feito de chifre de boi com detalhes em couro. Utilizado pelos peões de boiadeiro, cada toque é uma senha avisando a hora do almoço, a hora de recolher, situação de perigo e orienta o “sinueiro”, boi treinado que comanda a boiada.

É um instrumento de sopro de difícil execução, que emite sons agudos e graves, porém aveludados. O berrante é contagiante, emociona e conquista corações, religiões, rádios, TVs, jornais, cavalgadas e missas sertanejas.

Ele surgiu há mais de três séculos, juntamente com o tropeirismo, e é por esse motivo que é tão difícil desassociar um do outro.

Os primeiros berrantes tinham como único objetivo agrupar os animais. Tocados pelos peões nas antigas comitivas que transportavam boiadas, seu toque chama e comanda o gado para arrebanhar, descansar e seguir viagem.

Esses berrantes eram feitos do chifre do boi pedreiro e chegavam a medir mais de um metro. Com o passar do tempo surgiu o berrante com anel de prata, cuja finalidade era chamar o gado para dar sal, fazer transporte ou avisar que o almoço estava pronto.

A grande importância do berrante em fazendas é devido à distância que o som alcança: no silêncio do sertão, pode ser ouvido a 3 km.

Hoje, ainda é importante, para algumas comitivas de transportes de bois do pantanal, embora nem tanto utilizado para esta finalidade em outras regiões, o berrante ainda encanta turistas e visitantes das festas populares.

O berranteiro é quem toca berrante. Ele vai a frente da boiada, junto com o guia. Conseguir tirar um belo som do berrante exige muita habilidade. O berranteiro experiente consegue atingir um som que se assemelha a um longo “pluuummm”. Caso o som seja um “fuuufuuu” é sinal de que o berrante está sendo mal tocado. Alguns berranteiros conseguem executar trechos de músicas em seus instrumentos como o “Hino Nacional Brasileiro”.

Embora seja um instrumento característico de Goiás, Triângulo Mineiro, Matogrosso do Sul e Mato Grosso, encontramos esse instrumento entre os camponeses de Portugal. Observa-se que, a maioria dos colonizadores portugueses que vieram para Goiás, eram originários dessa região. Há também um instrumento semelhante entre os árabes.

Como acontece com vários objetos da nossa cultura, de acordo com a região do Brasil, o berrante recebe um nome: binga, guampo, ou buzina.

CARACTERÍSTICAS DO BERRANTE

Presente na nossa história e cultura há mais de três séculos, o berrante foi acumulando lendas e características especiais: sua ponta se chama bocal, e como existe apenas um lado certo para se tocar, há berrantes para destros e canhotos: o som deve ser limpo e ter sentimento.

Bodes, gatos e porcos são animais que não respondem ao toque do berrante, nem demonstram qualquer sentimento pelo instrumento. Todos os outros animais manifestam-se ao repique de um berrante.

O berrante não tem paleta, corda, nem teclado. A nota é dada na boca do berranteiro, que cria um estilo próprio, trazendo saudade, alegria, emoções e até mesmo lágrimas. Quanto menos se põe a boca no bocal, melhor é o som.

Pelo Brasil a fora acontecem concursos de berranteiros em cavalgadas, queima-do-alho (almoço caipira), festivais de viola e rodeios.

Existem cinco toques principais no berrante:

. Saída, um toque sereno para despertar a boiada de manhã;
. Estradão, toque repicado que reanima a boiada na estrada;
. Rebatedouro, toque de aviso de perigo;
. Queima do alho, avisa os peões da hora do almoço; e
. Floreio, toque livre para divertimento.

Em muitas canções da música sertaneja/caipira ele está presente em histórias e detalhes. Semana que vem tem mais curiosidades e histórias da nossa cultura brasileira, grande abraço.

Por: Luiz Henrique Pelícia (Caipirão)
www.clubedocaipirao.com.br

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